segunda-feira, 23 de junho de 2014

Literatura

"Vargas, Agosto de 54 - A História Contada Pelas Ondas do Rádio"
As passagens de Getúlio Vargas pelo poder foram marcadas por um intenso uso político do rádio. Ao mesmo tempo em que dava grande estímulo (político e econômico) ao veículo, também comandava a censura e perseguia jornalistas e intelectuais. Sua identificação com o meio foi tão grande que, por muitas décadas, os oradores nos comícios trabalhistas continuavam a tremer a voz para imitar a forma como chegava a palavra do Pai dos Pobres através das precárias ondas médias e curtas de sua época: "Tra-ba-lha-do-res-do-Bra-sil..." Esse homem inexpugnável, capaz de planejar a própria morte para obter uma espetacular ressurreição política, certamente tinha consciência de que puxava o gatilho para que o tiro ecoasse em cada longínquo recanto do país ainda naquela madrugada... A carta-testamento, uma das mais belas peças de retórica política produzida em nossa língua, é absolutamente radiofônica. Foi escrita para ser lançada ao éter pelos locutores, impregnada de oralidade e emoção. A população soube da morte de Vargas no dia 24 de agosto de 1954, por meio do rádio. Os jornais matutinos ainda traziam informações do pedido de licença do presidente, e a televisão era um artigo caro. Por sua capacidade de informar com rapidez, o rádio teve papel decisivo na crise política que teve como desfecho o suicídio de Getúlio. Cinqüenta anos depois, o ouvido atento de uma pesquisadora sintonizou com enorme precisão os ecos daquele acontecimento. A jornalista Ana Baum foi por sua vez ao microfone, e auxiliada pelas facilidades que as telecomunicações têm agora, conseguiu chegar quase em tempo real, a partir do mesmo Rio de Janeiro do Palácio do Catete, a muitos dos lugares onde foi ouvido o disparo que matou o Presidente da República em 1954. Sua pergunta para a História - qual o protagonismo do rádio no dia do suicídio? - foi amplificada por uma competente e sempre animada rede de pesquisadores, apaixonados pelo meio como foi Getúlio, e os resultados estão no livro "Vargas, agosto de 54, a história contada pelas ondas do rádio". Este livro investiga como foi a cobertura radiofônica da crise político-militar que atingiu o Brasil na primeira metade da década de 1950. Seu objetivo é refletir sobre o papel social do rádio num período em que o veículo tinha a hegemonia entre os meios de comunicação, contribuindo assim para a história da cultura brasileira e, evidentemente, e para a própria história do país.

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